
Entrego-lhe as minhas lágrimas e peço-lhe perdão por tudo o que fiz e não fiz, por tudo o que fui e não fui capaz de ser… peço-lhe perdão pela minha fraqueza e a minha necessidade de partir ou talvez mesmo de fugir.
Ao longo do caminho perdi-me e parece que não me consigo voltar a encontrar. Preso por entre deveres e desejos, receio que as forças para lutar tenham desvanecido.
As lágrimas que não acalmam a dor de a perder.
Exponho-lhe as minhas palavras em páginas rasgadas pela vergonha e retiro-me. Viro as costas ao amor que durante muito tempo carregou a minha alma e a acarinhou sem pedir nada em troca. No seu amor nunca existiu egoísmo, somente tristeza por eu não partilhar a mesma força e determinação. Tudo por causa do meu medo… o medo.
Como um cobarde banhado nas ondas da sua própria vergonha viro-lhe as costas, para não olhar para a sua dor, para a sua forma amargurada ao segurar nas suas mãos as minhas palavras.
Sim, eu abandonei-a.
O silêncio dela foi algo que nunca compreendi. Nunca entendi a sua dor; a lágrima que deslizava em silêncio do seu rosto.
Grito aos deuses com o coração cheio de ódio; magoa; tristeza:”-Porquê?!!”
Gostava de saber porquê que eu nunca a entendi. Gostava de conhecer a sua dor, o seu lamento. Durante todo aquele tempo, por mais que ela falasse, acho que nunca realmente ouvi o seu lamento, ou talvez nunca o tenha escutado atentamente sem qualquer julgamento.